domingo, 1 de julho de 2012

Da insuficiente bisnaga à falta de pano

Que tal fazermos a revolução? A começar pelos tiranos. E por esses tantos anos de hipocrisia e corrupção. Que tal fazermos a revolução? A começar por nossos medos e ganâncias, a começar por uma nova infância, livre dos males e defeitos da Nação.

Que tal fazermos a revolução? A começar por nossos olhos, com esse olhar maldito de não enxergar os próprios erros. Que tal fazermos a revolução? A começar por tanto ódio, e terminar com essa mania de que no dia seguinte tudo estará bem. A começar também pelo preço que se paga por um leito no hospital, pela insuficiente bisnaga, pelo coração demente, pela falta de vaga, por uma vida decente, simples, banal... Pelo vento que não levou, pelo leite e o pão que o diabo amassou.

Que tal fazermos a revolução? A começar pelas armas em nossas mãos. A começar por nos livrarmos de tudo que incomoda, o excesso de medo, a abundância de moda. Que tal fazermos a revolução? A começar pela casa, o vizinho, o quarteirão... E invadir o coração alheio, e se meter no meio de tanta escuridão. A começar pela luz que desgoverna, pelo poder que a velha engrenagem emperra, a continuar com a malandragem que nos enterra, feito avestruz, sem luz e sem direção.

Que tal fazermos a revolução? A começar pela falta de toque, de classe. A começar pela união da classe, pelas ruas, pelos cantos, pelas salas - de não estar, de não jantar, ou de aulas. A começar com as jaulas que se espalham em cada residência. Por tudo que torna impossível a sobrevivência, por tudo que nos faz perder a consciência... Do belo, do simples, do amor, do humano.

Que tal fazermos a revolução? Do excesso de zelo, da falta de pano, pra fechar o velho palco e começar tudo de novo. Que tal fazermos a revolução? Da consciência, do coração, do ato... Que tal sermos de fato um povo?

Gerson Jorge

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