domingo, 29 de maio de 2011

Ser pai é bom demais

É natural que nesses dias específicos
Alardeados e divulgados incessantemente em nossas vidas
Nos sintamos como que obrigados a dizer alguma coisa
A ter pronto no bolso e na ponta da língua
O tão esperado discurso.

É natural que a família se reúna
E numa roda de sorrisos e lágrimas
Todos escutem novamente as mesmas coisas ditas todos os anos
Talvez de forma diferente... Ou não. Porque ninguém se lembra mesmo.

É natural em mim essa solidão diária...
Quando procuro um filho e não encontro, quando cometo erros e quase me culpo
Quando penso acertar e não me entendem, quando tento tudo e não vejo resposta
Quando achei o máximo e meu filho nada
Quando não durmo de madrugada, esperando a volta, esperando o sossego.

É natural em mim essa angústia de sempre
Esse nó que não ata, que mata... De saudade, de desejo, de medo
De perder um filho, de esquecer o enredo
De não saber a história, ou já saber o seu fim.
O medo de ficar com dó de mim. E esquecer da vida.
De perder o tempo, de estancar a ferida...
É natural em mim: um dia o medo, no outro a alegria
De ser pai, de ser menos ou mais do que um filho precisa.

É natural em mim essa vontade agora
De pedir perdão, com ou sem motivo
Porque certamente todos que pedi não devem ser suficientes
Para cobrir meus erros.
Todos, tolos ou não, não serão certamente suficientes
Para aliviar meu coração.

Porque ser pai é tentar tudo, e nunca ter certeza de nada
É se dar tanto e sempre ser pouco, é pensar muito e sempre ser louco
É se entregar tanto e sempre ser sério
É amar infinito e esbarrar no limite... Esse é o mistério.

Ser pai é assim, esse turbilhão dentro de mim
A incerteza da importância, a saudade mesmo sem distância
O amor mesmo que duro.
Ser pai, meus filhos, eu juro
Apesar disso tudo aí em cima, é uma festa, uma sina...
É um gole de guerra com um sabor de paz
Ser pai... É bom demais!

Gerson Jorge

9 comentários:

Anônimo disse...

Olá Papa! Que bonito! Beijos.
Pablo.

Anônimo disse...

Hoje é dia dos Pais e nós ganhamos esse presente... Beijos!
Hellen.

Anônimo disse...

Caro Gerson, parabéns pelo texto do dia dos pais; de uma forma singela, você conseguiu dar visibilidade aos sentimentos que nos visitam, quanto aos erros, acertos, distância, dúvidas e tantos outros fatores que transitam entre pais e filhos.
Abraços,

Iasbeck

Fatinha Costa disse...

Maravilhosamente bem descrita a relação pai-filho!

Eu comento como filha, claro!

Mas seus textos têm aquela sensibilidade típica das pessoas especiais que não têm medo de mostrar-se por dentro, como você!

Ps: adorei a caricatura do Ique, outro de quem sou muito fã!

Fatinha Costa

Anônimo disse...

Você sempre tornando profundas coisas simples. Parabéns, querido mestre ! Beijos. Soraya

Anônimo disse...

Querido amigo,

Você sempre surpreendendo. Parabéns!!, gostei muito do texto e me identifiquei como mãe também.

ah! vou continuar navegando.

Um grande abraço

PAULO ROBERTO NOGUEIRA - P@ULINHO disse...

Texto simples, maravilhoso e carregado da emoção peculiar ao nosso Professor. PARABÉNS!

Anônimo disse...

Em suma, ser pai é quase como ser mãe...rs. Abraços, paola.

Anônimo disse...

Lobão.

Esse é mesmo um grande poeta! Tem meu voto para a academia de letras.