sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Quase um século

Nasci no Estácio, onde passei parte da infância; depois, Andaraí, Grajaú e Tijuca. Porém, além de todos esses lugares - explorados pela ousadia da minha idade – minha lembrança feliz me leva ainda a um antigo bairro: Cascadura.

Lá, curtia os papos inteligentes do meu tio (de quem herdei o nome) Gerson. Discutíamos suas invenções, ficávamos imaginando a cena de um avião caindo sobre suas costas. Sim, porque isso aconteceu mesmo! O avião estava parado e ele debaixo, cuidando das avarias.

Brincava com meus primos, e amigos que sempre se juntavam a nós. Verinha, sempre mais próxima, pela idade. Jairinho, um pouco mais velho, era visto como nosso “protetor”.

Era distante, pois não tínhamos carro e a ida era de ônibus. Meus pais – lá de cima, com certeza estão felizes e concordando -, mesmo com a situação difícil de funcionário público e professora primária, sempre nos levaram a muitos passeios. Todos como Cascadura, onde ficávamos livres, brincando e correndo pela rua, descalços e sem medo do alheio.

Com o tempo, envolvimentos e estresses de cada um, os contatos familiares foram acontecendo com menos frequência. Mas a família Jorge sempre esteve presente em todos os momentos da minha vida. Lá se vão mais de 50 anos. Quantos bolos (maravilhosos) de aniversário tia Lenira fez pra nós!

O bolo agora é dela, da querida tia Lenira. É uma bênção chegar aos 90 anos, lúcida e capaz de carinho. É o fruto colhido depois de tanta amizade plantada, é a resposta divina para tanta dedicação aos outros.

Desejar toda felicidade do mundo a você, tia Lenira, é desnecessário. Você já teve. Foi o que passou pra nós. Domingo, estaremos juntos, embora você nunca tenha saído de perto de mim, das minhas lembranças, do meu coração.

Quase um século... De bondade, de juventude, de simplicidade, de atitude. Que a humanidade retorne ao seio da família, e que as famílias produzam exemplos, que as Leniras aconteçam por aí, para que o mundo cresça... Descalço e livre.

Gerson Jorge

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