quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Cadeira para secretária sem braço

Solicitamos cadeira para secretária sem braço. Esta frase não é meramente um exemplo didático, foi retirada da correspondência de uma grande empresa.

Com certeza o solicitante sabia o que estava pedindo. Mas o que dizer da “compreensão” do fornecedor? Um texto empresarial não admite interpretação. Só deve haver uma única mensagem a comunicar. Pior do que o não entendimento é o entendimento não esperado. O não entendimento para o processo, e a dúvida pode ser desfeita; o entendimento não esperado pode fatalmente levar a uma ação equivocada.

A palavra pode ser aliada ou inimiga, mas sem comunicação não existimos. Com base na consagrada afirmativa "o homem é um ser social por natureza", pode-se afirmar: solidão é a ausência de comunicação. Na prática tal constatação se reflete no papel importante que a Comunicação tem assumido. Cada vez mais, empresas têm dado destaque à Comunicação, falada ou escrita.

Neste contexto, há um provérbio chinês muito interessante: Se dois homens vêm andando por uma estrada - cada um carregando um pão - e, ao se encontrarem, eles trocam os pães, cada homem vai embora com um. Se dois homens vêm andando por uma estrada - cada um carregando uma idéia - e, ao se encontrarem, eles trocam as ideias, cada homem vai embora com duas.

E é dentro dessa importância, dessa abrangência da Comunicação, que enfrentamos nossas tarefas diárias, entre palavras e sentimentos. Proporcionamos alegrias ou causamos enganos. Abrimos portas, ou nos fechamos incompreendidos. Levamos uma plateia ao delírio, ao silêncio emocionado; ou falamos pra nós mesmos, no vazio do que dizemos.

O que nos faz escutar uma pessoa durante horas? O que não nos permite sequer dar atenção a outras durante poucos minutos? Mais do que as palavras escolhidas, a verdade no que está sendo dito é que nos prende. Palavras sem sentimento nada dizem, são corpos sem alma cuja carne apodrece. Costumo dizer que a Comunicação começa antes da Gramática e vai além dela. A Gramática em si nada significa. Ela deve estar a serviço da Comunicação.

Portanto, a crença no que estamos falando ou escrevendo é a responsável pela empatia com nosso ouvinte ou leitor. Se não acreditamos no que dizemos, de nada adiantam a beleza do vocabulário e a perfeição do texto. Paralelamente, o uso correto da Gramática tornará o texto compreensível.

Existem recomendações importantes na Comunicação. A repetição de palavras ou de ideias deve ser evitada. A repetição de palavras denota vocabulário escasso; a repetição de ideias aparenta falta de conhecimento geral e até mesmo insegurança. Períodos longos também dificultam o entendimento, pois levam ao excesso de vírgulas e de conectivos. Além disso, o foco não pode estar em quem comunica ou no que é comunicado, mas no ouvinte, no leitor.

Seguindo-se tais recomendações terminam os riscos? Ainda não. O texto empresarial, mais do que qualquer outro, requer preparação anterior à escrita. Antes de colocar as palavras no papel, é preciso “perder” um tempo razoável com a organização: relacionar os assuntos; selecionar os realmente imprescindíveis; juntar os afins; e, finalmente, estabelecer prioridades, definindo a ordem em que deverão ser escritos. Só então desenvolver a escrita. O resultado final será, com certeza, um texto fácil de ser entendido. Praticar este método é uma das ferramentas de um bom curso de Redação.

Infelizmente sempre houve uma grande distância entre o que estudamos na Língua Portuguesa e aquilo que utilizamos no dia a dia. Perdemos muito tempo de nossas vidas decorando regras e recebendo muitas vezes informações desnecessárias ou erradas. Ocupamos nossas mentes com o menos importante, deixando de lado o essencial: o relacionamento das palavras, a estrutura da frase.

E havia os famosos “macetes”, os chamados facilitadores do aprendizado. Muitos dão resultado. Alguns, entretanto, são danosos. - Respirou, bota vírgula! Quantos de nós não tivemos tal orientação do professor? Isto é um enorme equívoco. A pontuação não é uma questão respiratória, é uma questão lógica. A pontuação é uma questão tão lógica que é capaz de mudar significados. Uma pequena vírgula pode fazer uma grande diferença: Encontramos seu irmão mais velho. Encontramos seu irmão, mais velho.

Todos podem melhorar seu texto, ganhar segurança e dominar a Comunicação. A questão é o foco. Quando olhamos na direção certa, tudo fica mais fácil. A Língua Portuguesa não é difícil, a forma de lidar com ela é que a torna distante. A importância não está nos nomes, e sim nas relações. Palavras sozinhas podem não dizer nada, ou até dizer demais. Quando relacionadas ganham vida, tornam-se mensagem, que deve ser clara e objetiva. E isso não se consegue decorando nomes ou regras, mas praticando, compreendendo e vivendo as estruturas e, consequentemente, o texto.

Comunicamos mal porque não estamos bem? Ou não estamos bem porque comunicamos mal? Não sei... E talvez nunca saiba. Mas, depois de tantos anos lidando com o Ensino, e por isso aprendendo, de uma coisa eu sei: Não há um caminho que leva à Comunicação, a Comunicação é o caminho.

Gerson Jorge

3 comentários:

Claudia Cappelli disse...

Parabéns!!! Adorei o Blog. Tá gostoso de ler.

PAULO ROBERTO NOGUEIRA disse...

Quem pode detestar a Língua Portuguesa depois de participar de uma aula com o Mestre Gerson? Ninguém! A metodologia criada por ele é dinâmica e moderna, permitindo a liberdade do aluno mas também exigindo um comprometimento forte. Escrever, escrever, escrever sempre, procurando transmitir nos textos muita emoção, sentimentos sinceros. Aprendí muito. Obrigado Gerson.

P@ULINHO (C@RIOC@) NOGUEIR@ disse...

Na correspondência de uma grande empresa:"...estamos enviando um quilowatt, em anexo...".

Pela linha de transmissão seria mais seguro!